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A RÚSSIA DOS CZARES por Emanuel Vladimir Castro (parte 6)

Rússia 1826, mesmo com o novo Czar tendo posto um fim ao movimento dezembrista, a elite russa ainda ansiava pelo poder. Aristocratas, intelectuais e empreendedores sonhavam em mudar a sociedade em segredo. Mas apenas um homem ousou a expressar publicamente o desejo comum por dignidade e liberdade, o grande poeta russo Aleksandr Sergeevich Pushkin.

Em uma nação onde expressar-se poderia ser um crime, Pushkin era um herói nacional. Mas em 27 de janeiro de 1837, a voz do rebelde calou-se para sempre. Pushkin havia desafiado um oficial da guarda imperial para um duelo. O oficial flertara com a esposa do poeta. Então, honra e reputação estavam em jogo. E na Rússia Czarista a honra vale mais que a vida. A morte do poeta foi uma tragédia nacional. Ainda assim, representaria uma gota de sangue, se comparada ao que estava por vir.

Enquanto as mudanças políticas eram suprimidas na Rússia, fora do império, revoluções já abalavam as antigas estruturas. Na Europa ocidental, a revolução industrial estava florescendo. O nacionalismo, o socialismo e a democracia seguiam o mesmo rumo. Em 1848, rebeliões derrubaram governos aristocráticos em Paris e Praga. E quando a onda de revoltas depôs o Imperador da Áustria, o Czar Nicolau I passou ao ataque. Tropas russas marcharam para restituir o trono Austríaco aos Rabisburgos. Os monarquistas se reagruparam e passaram a esmagar rebeliões em todo o continente. O Czar Nicolau foi proclamado por seus aliados o protetor da monarquia europeia.

Como recompensa por restaurar os direitos dos reis, Nicolau pode voltar seus olhos para Turquia e os Bálcãs. O Czar sonhava em conquistar os despojos do agonizante império Otomano. Em 1853, as forças Czaristas atacaram os Bálcãs e portos do mar Negro. A iniciativa russa de conquistar o império Otomano causou inquietação em Londres e Paris. Inglaterra e França ofereceram apoio aos Turcos. Começava a guerra da Criméia.

Para a Rússia, a guerra contra as potencias, mostraria uma realidade amarga. Mal equipados, mal alimentados e em minoria, os homens da maquina militar Czarista, tida como invencível, foram derrotados. Antes da guerra da Criméia, a Rússia era considerada a maior potencia militar do planeta. Após a guerra, havia soldados russos agonizando em território do próprio país.

Fevereiro de 1855, abandonado e atacado por monarcas que recentemente o haviam apoiado, o Czar Nicolau inspecionou suas tropas sob uma forte tempestade de inverno. No dia seguinte, adoeceu com pneumonia. Uma semana depois estava morto. Com o império em crise, o peso da coroa coube ao filho de Nicolau, Alexandre II. O novo Czar aceitou a realidade, admitindo o fracasso na guerra e convocou as tropas para casa. Ele tinha outras batalhas em mente. Uma guerra contra o passado russo.

A tragédia, a humilhação e a derrota na guerra da Criméia, tornaram evidente o fato de que a Rússia estava em decadência. Os velhos conceitos, o exercito, a economia e a sociedade russa precisavam mudar para que o país pudesse melhorar. O vapor e o aço estavam transformando o mundo. Mas na Rússia, mudanças eram proibidas, a menos que um homem às conduzisse, o Czar.


Quando assumiu o poder em 1855, Alexandre II estudou minuciosamente a missão que teria pela frente. No inicio de seu reinado, Alexandre perdoou os dezembristas, aboliu o castigo corporal, instituiu tribunais mais justos, reduziu a censura, projetou novas indústrias e autorizou a construção de uma ferrovia até o mar Negro. Mas o maior de seus feitos foi a libertação dos escravos russos após séculos de servidão. Alexandre estava convencido que uma nação baseada na escravidão não poderia competir na era industrial.

Porem, nobres conservadores opuseram-se veementemente à alforria. Diziam que, sem trabalho escravo, suas fortunas desapareceriam e a economia russa ruiria. Em 1861, Alexandre assinou o estatuto dos camponeses libertos. No inicio, a alforria foi tida como um ato grandioso e heroico. Alexandre II foi saudado como o Czar libertador. Mas, logo as pessoas ficaram decepcionadas com os verdadeiros efeitos da libertação. Os camponeses tinham que comprar terras a preços elevados, o que os tornava grandes devedores. Com a libertação os camponeses estavam mais pobres do que nunca. A produção agrícola despencou e, como muitos temiam, a economia russa chegou a beira de um colapso. Revolucionários opositores começaram a exigir mudanças radicais. Havia quem exigisse eleições e terras. Mas outros queriam sangue; o sangue do Czar. Autodenominavam-se “Narodina Volia”, a vontade do povo. O grupo terrorista era liderado por uma mulher, Sofia Perovskaia, cujo pai fora governador de São Petersburgo, um dos cargos mais importantes do Império. Esse é um dos paradoxos da história russa, pois a nata privilegiada da sociedade estava produzindo rebeldes que tentavam derrubar o regime. Sofia e seus camaradas acreditavam que apenas derramando o sangue do Czar seria possível fazer surgir uma nova nação. Em 1879, o esquadrão de Sofia lançou a campanha para assassinar o líder progressista russo, o Czar Alexandre II. Mesmo sendo caçado e tendo sofrido dois atentados frustrados, o Czar continuava a defender as reformas e anunciou projetos para uma assembleia legislativa. Pela primeira vez na história russa, um Czar propôs dividir seu poder. No domingo, 01 de março de 1881, o Czar Alexandre planejava publicar sua proposta de descentralização do poder e a nova legislatura na manhã da terça-feira. Em 48 horas, a Rússia estaria a caminho do sistema parlamentar. Mas para os terroristas da “Narodina Volia”, as reformas só começariam com a morte do Czar.

Naquele domingo, o grupo terrorista armou uma emboscada no caminho por onde passaria o Czar rumo ao palácio. Armados com quatro bombas eles iniciaram a revolução. Após ter seu cortejo alvejado por duas bombas, Alexandre II foi levado ao palácio com traumatismo craniano e mutilado, onde sangrou até morrer. Os revolucionários acreditavam que uma nova era começara, que o povo havia sido libertado. Mas a repressão retornou como forma de vingança. Alexandre III, o filho herdeiro do Czar morto, capturou Sofia e seu grupo e os mandou para a forca. E o legado deixado por seu pai, a intenção de dividir o poder com legisladores, foi abandonado. Com o novo Czar, Alexandre, as reformas acabaram.

Seis anos depois, partidários do “Narodina Volia” conspiraram para matar o novo Czar. Seus planos foram descobertos e os lideres enforcados. Um dos executados, Alexander Ulianov, deixou um irmão mais jovem chamado Vladimir. Inspirado pelos rebeldes mortos, Vladimir Ulianov logo revolucionaria a Rússia sob o codinome de guerra, Lenin.

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